Quem tem medo do Lobo Mau? O agro é mesmo o vilão?

Postado por Ludmila Araujo
em 6 de fevereiro de 2025

O agronegócio brasileiro muitas vezes é retratado como o vilão em questões ambientais e sociais. Termos negativos são associados frequentemente ao setor, gerando uma imagem de destruição e exploração.

No entanto, os dados mostram um cenário um pouco diferente e essa percepção generalizada nem sempre reflete a realidade. Como somos comprometidos em trazer informações baseadas em dados, corremos atrás para poder provar: o que é verdade e o que é mito sobre o agro?

A verdade é que o agronegócio, como qualquer área produtiva, tem desafios a enfrentar, mas, vamos mostrar neste artigo que o Brasil tem sido um protagonista em iniciativas que conciliam produtividade e sustentabilidade, e está mudando o cenário do agro brasileiro. Para mudar a narrativa de que o agro é o lobo mau da história, é essencial usar números e dados, investir na gestão de imagem e adotar práticas cada vez mais responsáveis.

Dados que revelam o outro lado

Quando falamos em preservação e território plantado, de acordo com a NASA, apenas 7,6% do território brasileiro é ocupado por agricultura, um número muito inferior à média de 20% a 30% observada em outros grandes produtores mundiais. Além disso, quando somadas as áreas de pastagens, o agropecuário brasileiro ocupa 33% do território nacional — um valor que, apesar de relevante, ainda está dentro dos padrões globais. Outro dado importante o Brasil preserva e protege a vegetação nativa em mais de 66% do seu território, uma novidade para muitos, devido a sua pouca divulgação.

A produtividade agrícola do país também reflete avanços tecnológicos e práticas eficientes. Entre 1975 e 2022, a produção de grãos e oleaginosas aumentou 312%, enquanto a área plantada cresceu apenas 61%. Isso demonstra que o Brasil tem priorizado o aumento da produtividade por hectare, principalmente por meio de pesquisas da Embrapa que revolucionou a forma de plantar no Brasil, reduzindo a pressão sobre novos territórios e contribuindo para a preservação ambiental.

Luiz Eduardo Magalhães (LEM), no estado baiano, é um exemplo dessa grande produtividade unida a sustentabilidade. Adotando agricultura de precisão e tecnologia, a cidade recordista em produtividade de soja aumentou sua produção aumentando muito pouco sua área plantada.

A sustentabilidade se tornou o pilar do novo agro brasileiro, existem esforços para proteger áreas naturais e o Brasil tem se movimentado para alinhar suas práticas agrícolas às metas globais. O Plano ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono) é um exemplo disso, projetando a redução de emissões por meio de técnicas como plantio direto, recuperação de pastagens degradadas e integração lavoura/pecuária/floresta.

E, quando falamos em sustentabilidade, não falamos apenas em relação a sustentabilidade ambiental, mas também da sustentabilidade do negócio, afinal, se o solo da propriedade for degradado por práticas nocivas, o produtor também perde produtividade e, consequentemente, dinheiro.

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que o setor agropecuário brasileiro vem reduzindo suas emissões de gases de efeito estufa em uma média de 5% ao ano desde o início dos anos 2000, com taxas ainda mais significativas na última década, que alcançaram os 12% em redução.

Iniciativas como a Liga do Araguaia, que promove a pecuária sustentável na região do Vale do Araguaia, provam que é possível conciliar produção e preservação. Além disso, cerca de 25% de todas as áreas preservadas no Brasil estão dentro de propriedades privadas, evidenciando o papel dos produtores rurais na proteção de florestas nativas e nascentes.

Trabalho escravo: um desafio que vem sendo enfrentado

Apesar dos avanços, existem enormes desafios a serem superados, principalmente causados por atividades ilegais, como a extração ilegal de madeira e os garimpos ilegais, e especialmente quando pensamos na questão do trabalho escravo. Além disso, casos de exploração laboral continuam sendo reportados, isso prejudica a imagem do setor e dificulta as negociações internacionais, especialmente em mercados exigentes como o europeu.

Nesse contexto, os dados se tornam peça chave para combater essas práticas. Eles permitem monitorar e criar mecanismos que garantam a conformidade com padrões éticos e ambientais. Quando o agro começa a utilizar os dados, coíbe ações criminosas que mancham a imagem do setor.

Soluções para isso já existem e estão sendo usadas para mapear a origem dos produtos e as propriedades para verificar se estão alinhados aos critérios de sustentabilidade e respeito aos direitos humanos.

O papel dos dados na transformação do agro

Os números não apenas contam uma história diferente do agronegócio brasileiro, mas também ajudam a construir um setor mais responsável.

A sustentabilidade deixou de ser apenas uma pauta desejável e se tornou uma necessidade estratégica para o agronegócio. O setor, que muitas vezes enfrenta críticas sobre impactos ambientais e sociais, pode reverter essa imagem e utilizar ainda mais a tecnologia para mudar o cenário ambiental brasileiro e se tornar uma referência mundial. Utilizar essas informações não só ajudam a mitigar impactos negativos, como também promovem um modelo de produção alinhado aos princípios do ESG.

A rastreabilidade das cadeias produtivas, o uso de tecnologias para monitoramento ambiental e as políticas públicas baseadas em evidências são ferramentas poderosas para transformar o agro em um exemplo de sustentabilidade.

No quesito ambiental: monitorar e reduzir impactos

Os dados permitem um controle rigoroso sobre os processos produtivos, viabilizando práticas que reduzem impactos ambientais. Por meio de tecnologias como sensores e imagens de satélite, é possível monitorar áreas de cultivo e pastagem em tempo real, garantindo o uso sustentável do solo e o respeito às áreas de preservação.

Rastreabilidade: Informações detalhadas sobre a origem e o trajeto dos produtos agrícolas asseguram que eles sigam padrões sustentáveis.

Recuperação de áreas degradadas: Dados sobre solo e clima ajudam na reabilitação do solo, aumentando a produtividade sem a necessidade de expandir fronteiras agrícolas.

Redução de emissões: O uso de tecnologias baseadas em dados ajuda a identificar e diminuir emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para o cumprimento de acordos climáticos, como o Acordo de Paris.

No quesito social: garantir ética e respeito

O uso de dados também é essencial para combater problemas como o trabalho escravo ou infantil em cadeias produtivas. Ferramentas de análise, como a Zyon com o ESGagro, identificam pontos de risco e garantem a transparência nos processos, protegendo os direitos dos trabalhadores. Além disso, dados ajudam a mapear a inclusão de pequenos produtores, promovendo a diversidade e fortalecendo comunidades rurais.

No quesito governança: tomar decisões baseadas em dados

Decisões guiadas por dados tornam o agronegócio mais eficiente e transparente. Tendo informações precisas em mãos, os gestores priorizam investimentos em tecnologias mais sustentáveis.

Com isso, o setor se torna mais competitivo e ético, tanto no mercado interno quanto no internacional.

O papel dos dados no ESG do agro

A aplicação de dados no agronegócio não é apenas uma ferramenta para evitar problemas; é uma estratégia de transformação. Com informações confiáveis, o agro pode se tornar um exemplo global de sustentabilidade, conciliando alta produtividade com respeito ao meio ambiente e às comunidades.

Monitorar a biodiversidade, recuperar solos e implementar de tecnologias que maximizam a eficiência produtiva podem fazer o agro brasileiro mostrar ao mundo que é possível alimentar o planeta sem esgotar seus recursos.

O governo vem investindo nesta iniciativa, e desde o fim de 2023 iniciou um projeto para recuperar e converter 40 milhões de hectares de pastagens de baixa produtividade em áreas agricultáveis, isso pode dobrar a produção de alimentos sem cortar uma única árvore.

Com a ajuda da tecnologia guiada por dados e um compromisso real com a sustentabilidade e os direitos humanos, além de divulgar as ações reais para uma produção sustentável, podemos mudar a narrativa e nos consolidarmos como líder global na produção de alimentos e na preservação ambiental. No final, os dados provam que o agro não é o vilão. Pelo contrário, ele vem se tornando protagonista de um futuro mais sustentável e responsável. Agora, mais do que nunca, é hora de contar essa história de forma verdadeira e transparente.